Simone de Beauvoir faria hoje 106 anos
A 4 de Janeiro de 1960, morreu Albert Camus, vítima de um acidente de automóvel. Embora tivesse planeado viajar de comboio com o poeta René Char, aceitou à última hora a boleia do seu amigo e editor Michel Gallimard. No bolso do casaco encontraram um bilhete de comboio não utilizado e, na mala, o manuscrito de um romance inacabado: O Primeiro Homem.
Nós, participantes nas Jornadas Internacionais de Estudo «Filosofia e Democracia», organizadas pela UNESCO, que tiveram lugar em Paris,nos dias 15 e 16 de Fevereiro de 1995, constatamos que os problemas de que trata a filosofia são os problemas da vida e da existência dos homens considerados universalmente. Entendemos que a reflexão filosófica pode e deve contribuir para a compreensão e a orientação das preocupações humanas; consideramos que a actividade filosófica, que não retira nenhuma ideia à livre discussão, que se esforça por precisar as definições exactas das noções utilizadas, verificar a validade dos raciocínios, examinar com atenção os argumentos dos outros, permite a cada um aprender a pensar por si mesmo; sublinhamos que o ensino filosófico favorece a abertura de espírito, a responsabilidade cívica, a compreensão e a tolerância entre os indivíduos e entre os grupos. Reafirmamos que a educação filosófica, formando espíritos livres e reflexivos, capazes de resistir às diversas formas de propaganda, de fanatismo, de exclusão e de intolerância, contribui para a paz e prepara cada um para assumir as suas responsabilidades perante as grandes interrogações contemporâneas, designadamente no domínio da ética, julgamos que o desenvolvimento da reflexão filosófica, no ensino em vida cultural, contribui de forma importante para a formação de cidadãos, exercendo a sua capacidade de julgamento, elemento fundamental de toda a democracia. Por estas razões, comprometendo-nos a fazer tudo o que estiver em nosso poder, nas nossas instituições e nos nossos países respectivos, para realizar estes objectivos. Declaramos: Uma actividade filosófica livre deve ser garantida a todos os indivíduos, em toda a parte, sob todas as formas e em todos os lugares onde se possa exercer. O ensino filosófico livre deve ser preservado ou alargado onde já existe, deve ser criado onde ainda não existe, e deve ser nomeado explicitamente «filosofia». O ensino filosófico deve ser assegurado por professores competentes, especialmente formados para o efeito, e não pode ser subordinado a nenhum imperativo económico, técnico, religioso, político ou ideológico. Permanecendo autónomo, o ensino filosófico deve ser, em toda a parte onde for possível, efectivamente associado, e não simplesmente justaposto, às formações universitárias ou profissionais, em todos os domínios. A difusão de livros acessíveis a um grande público, tanto pela sua linguagem como pelo seu preço de venda, a criação de emissões de rádio e de televisão, de cassetes áudio ou vídeo, a utilização pedagógica de todos os meios audiovisuais e informáticos, a criação de múltiplos lugares de debates livres, e todas as iniciativas susceptíveis de fazer aceder o maior número a uma primeira compreensão das questões e dos métodos filosóficos devem ser encorajados, para constituir uma educação filosófica dos adultos.O conhecimento das reflexões filosóficas das diferentes culturas, a comparação dos seus contributos respectivos,a análise do que as aproxima e do que as opõe devem ser perseguidos e apoiados pelas instituições de investigação e de ensino. A actividade filosófica, como prática livre da reflexão,não pode considerar nenhuma verdade como definitivamente adquirida e incita a respeitar as convicções de cada um, mas não deve em caso algum, sob pena de se negar a ela mesma, aceitar doutrinas que neguem a liberdade de outrem, achincalhando a dignidade humana e originando a barbárie.
Todos os anos, em Novembro, a Unesco dedica um dia à Filosofia.
Hoje, Camus faria cem anos. Os seus textos continuam tão essenciais como então: afinal continuamos a viver uma existência absurda.
" Se este mito é trágico, é porque o seu herói é consciente. Onde estaria, com efeito, a sua tortura se a cada passo a esperança de conseguir o ajudasse? O operário de hoje trabalha todos os dias da sua vida nas mesmas tarefas, e esse destino não é menos absurdo. Mas só é trágico nos raros momentos em que ele se torna consciente. Sísifo, proletário dos deuses, impotente e revoltado, conhece toda a extensão da sua miserável condição: é nela que ele pensa durante a sua descida."
Albert Camus, "O Mito de Sísifo"
O texto da Alegoria da Caverna, narrado por Orson Welles e dobrado em português.
"Todos nós somos hóspedes da vida. Não há nenhum ser humano que saiba o significado da sua criação, exceto ao nível mais primitivo e biológico. Não há nenhum homem nem nenhuma mulher que saiba qual o objetivo (se é que existe...), qual o significado possível de ter sido «atirado» para o mistério da existência. Por que é que há algo em vez de nada? Por que é que eu existo? Somos hóspedes deste pequeno planeta, de uma urdidura infinitamente complexa, quiçá fortuita, de processos e mutações evolutivas que, em inúmeros estádios, poderia ter seguido um outro curso ou testemunhado a nossa extinção. Acabámos, aliás, por nos tornar hóspedes vândalos, produzindo lixo, explorando e destruindo outras espécies e recursos. Estamos a transformar rapidamente este ambiente extraordinariamente belo e intrincadamente perfeito, e inclusive o espaço sideral, numa lixeira venenosa. Há caixotes do lixo na Lua. Por mais inspirado que seja o movimento ecológico que, juntamente com a emergente perceção dos direitos das crianças e dos animais, é dos poucos capítulos esclarecidos do nosso século, é bem possível que tenha vindo demasiado tarde."
Adriano Correia de Oliveira, "Erguem-se muros"
"Há que fazer-nos ao mar, antes que sequem os rios..."
Anselm Jappe, filósofo alemão radicado em França, vem a Lisboa, no dia 23 de Abril,dar uma conferência subordinada ao tema: "Après la fin du travail: vers une humanité superflue?".
Autor de raiz marxista, defende que a sociedade e a economia futuras vão deixar de se fundamentar no trabalho. O que construiremos a seguir?